Mil mulheres se reúnem em Brasília para discutir crise climática e fascismo, com participação de Marina Silva
- Ariele Lima
- 2 de jun.
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Atualizado: 3 de jun.
Jornada Nacional de Luta das Mulheres Atingidas acontece até 5 de junho e reúne lideranças de todo o país
Por: Ariele Lima
Cerca de mil mulheres atingidas por barragens e outros grandes empreendimentos que impactam o meio ambiente e os modos de vida tradicionais estão reunidas, entre os dias 2 e 5 de junho, em Brasília (DF), para participar da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Atingidas. A iniciativa reúne militantes de diferentes regiões do país para debater pautas urgentes, como a crise climática, a ascensão do fascismo e a luta por direitos socioambientais.
Vindas em caravanas de Norte a Sul do Brasil, as participantes trazem na bagagem histórias de violações ambientais e sociais: deslocamentos forçados, perda de moradia, restrição ao acesso à terra e à água, entre outros impactos causados por megaprojetos.

O encontro ocorre em um contexto decisivo, especialmente após a conquista histórica da Política Nacional de Direitos das Populações Atingidas por Barragens (PNAB), sancionada em 2023 após anos de mobilização popular. A política estabelece diretrizes como reassentamento digno, reparação integral dos danos e participação das comunidades atingidas nas decisões que afetam seus territórios.
Agora, o desafio é ampliar essas conquistas, denunciar retrocessos e fortalecer redes de resistência frente ao avanço de discursos autoritários, à intensificação da emergência climática e à expansão predatória de empreendimentos sobre territórios tradicionais.

Marina Silva é acolhida com solidariedade em ato contra ataques e retrocessos ambientais
O primeiro dia da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Atingidas foi marcado por um ato de solidariedade à ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, que participou da atividade ao lado de outras lideranças, como a diretora socioambiental do BNDES, Tereza Campello.
Militantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) realizaram performances artísticas em apoio à ministra, em repúdio aos ataques e ofensas que ela sofreu recentemente durante uma audiência no Senado. O gesto reafirmou o compromisso do movimento com a luta das mulheres por justiça ambiental e contra o machismo presente nas instituições de poder.
Durante sua fala, Marina criticou duramente o Projeto de Lei 2.159/2021, conhecido por ambientalistas como o “PL da Devastação”. Aprovado no Senado em 21 de maio, por 54 votos a 13, o texto estabelece a chamada Lei Geral do Licenciamento Ambiental (LGLA) e agora retorna à Câmara dos Deputados para nova votação.

A ministra alertou para os riscos do projeto, que retira a exigência de outorga para uso de recursos hídricos, dispensa atividades agropecuárias do licenciamento ambiental e permite que empreendimentos se autolicenciem por meio da Licença por Adesão e Compromisso (LAC), sem qualquer análise técnica prévia.
“O homem legisla, mas a natureza não assimila”, afirmou Marina. “Precisamos de tempo para debatê-lo, para ouvir a ciência, os povos originários, os movimentos sociais, ouvir o povo.”
O posicionamento da ministra foi recebido com entusiasmo e fortes aplausos pelas participantes da Jornada, que vêm denunciando os impactos da flexibilização ambiental em seus territórios. Para elas, defender o meio ambiente é também defender a vida, os direitos coletivos e a permanência das populações em seus modos de viver.
Karine Campos, coordenadora da caravana do Pará e integrante do movimento desde 2019, destacou a importância de uma jornada protagonizada exclusivamente por mulheres.
“Esse evento é uma oportunidade fundamental para reafirmarmos nossa luta por direitos e mostrar a força da atuação das mulheres no MAB. É o nosso momento de visibilidade e de fortalecer a organização feminina dentro do movimento”, afirmou.
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