Ainda precisamos falar sobre os direitos das mulheres em 2025
- algodogenerolab
- 29 de mai.
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Atualizado: há 3 dias
Apesar de avanços históricos, o Brasil ainda enfrenta uma realidade de desigualdade e violência de gênero, agravada pelo racismo estrutural e pela negligência institucional.
Por: Ariele Lima e Ana Clara Martins
Embora representem a maioria da população brasileira, as mulheres seguem enfrentando desigualdades estruturais em múltiplas frentes. Dados do Relatório Anual Socioeconômico da Mulher (Raseam 2025) mostram que no Brasil existem 110,3 milhões de mulheres, contra 105,3 milhões de homens. Mesmo em maior número, a presença feminina nos espaços de poder, renda e segurança segue marcada por limitações históricas.
Em 2023, havia mais casas lideradas por mulheres (40,2 milhões) do que por homens (37,5 milhões), um cenário que já se consolidava desde 2022, especialmente nas regiões Sudeste, Nordeste e Sul.
Entre as chefes de família, 57,2% se declaravam pretas ou pardas, grupo que também concentra os menores rendimentos médios e os maiores índices de insegurança alimentar. Em 2023, 59,4% dos domicílios em situação de insegurança alimentar eram chefiados por mulheres.
As mulheres com 14 anos ou mais ganhavam, em média, apenas 79,1% do rendimento dos homens. A diferença é ainda maior em regiões como o Centro-Oeste, onde essa razão chega a apenas 73,6%.
Uma linha do tempo das conquistas femininas no Brasil
A história da conquista de direitos pelas mulheres brasileiras é marcada por avanços significativos, mas também por longos períodos de omissão estatal e resistência social. Conhecer esse percurso ajuda a entender por que, em 2025, ainda é necessário lutar para que esses direitos sejam, de fato, respeitados e garantidos.
Apesar de todas essas conquistas históricas, que marcaram avanços importantes na luta pelos direitos das mulheres, a realidade atual ainda mostra muitas lacunas e desafios. As leis e políticas públicas que foram implementadas ao longo das décadas precisam ser constantemente revisadas e aplicadas com efetividade para garantir que o que está no papel se transforme em proteção e liberdade no cotidiano das mulheres brasileiras.
Mulheres negras continuam sendo as principais vítimas
Dez mulheres são assassinadas no Brasil por dia. Mães, filhas, netas, vizinhas, esposas, alunas, chefes, líderes e tantas outras denominações que se pode dar às mulheres. Segundo o Atlas da Violência de 2025, o número de homicídios femininos cresceu 2,5% entre 2022 e 2023, e as mulheres negras continuam sendo as principais vítimas dessa violência letal. Isso traz a falsa ideia de que os direitos das mulheres estão totalmente garantidos e conquistados.
Mulheres negras continuam sendo as principais vítimas. Em 2023, 68% das mulheres assassinadas no país eram pretas ou pardas, segundo a classificação do IBGE.
A Lei Maria da Penha, criada em 2006, trata a violência contra as mulheres como crime no país. A lei foi batizada com o nome de Maria da Penha, em referência a uma mulher que sobreviveu a duas tentativas de assassinato por seu então marido, Marco Heredia. Maria ficou paraplégica e usou sua luta pessoal na busca por justiça para ela e para as mulheres brasileiras.
Em março de 2025, a AGU (Advocacia-Geral da União) processou a produtora Brasil Paralelo por usar discursos e informações falsas sobre a Maria da Penha.
Ainda segundo o Relatório Anual Socioeconômico da Mulher (Raseam), a violência de gênero permanece sendo um dos maiores desafios. O lar, que deveria ser espaço de proteção, foi o cenário de 64,7% das agressões registradas contra mulheres em 2023. As violências mais comuns foram a física (41,6%), moral (27,5%) e psicológica (24,4%), e a principal forma de agressão foi o espancamento, usado em quase metade dos casos (48,3%). O cenário se agrava com o aumento nos registros de estupro: 2023 teve o maior número da série histórica, com 63.664 casos. E até fevereiro de 2025, já haviam sido registrados 59.995 casos no ano seguinte.
Dados da Pesquisa Nacional de Violência Contra a Mulher de 2023 revelam que cerca de 60% das mulheres não denunciam seus agressores, muitas vezes por falta de confiança nas instituições policiais e judiciárias. O medo, a vergonha, a dependência financeira e o contexto social fazem com que a denúncia seja uma decisão difícil e arriscada.
Essa ausência de denúncias alimenta um ciclo de impunidade e invisibilidade. Muitas violências, mesmo que graves, não entram nas estatísticas oficiais, contribuindo para uma subnotificação preocupante. Essa fragilidade no sistema de proteção faz com que as mulheres continuem expostas a riscos crescentes, muitas vezes sem amparo suficiente do Estado.
Os números revelam o que muitas mulheres brasileiras já sabem pela experiência cotidiana: os direitos conquistados, embora fundamentais, ainda não são plenamente vividos. A violência de gênero, agravada por recortes de raça, classe e território, expõe a distância entre o que está previsto na lei e o que se concretiza na vida real.
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